Letícia Zuppi
Ricardo Tozzi era um executivo de sucesso até decidir largar a profissão para seguir a carreira de ator. O simpático galã campineiro apaixonou-se pelo teatro e, tempos depois, teve a oportunidade de estrelar na TV em novelas. Seu primeiro trabalho foi na novela Bang Bang, em 2005. Tozzi também esteve em Pé na Jaca, Malhação, Caminho das Índias, Insensato Coração e Dercy de Verdade, entre outros. Em Cheias de Charme interpretou os gêmeos Inácio e Fabian.
O começo da carreira no teatro ensinou a Ricardo que até mesmo o texto coloquial e as situações corriqueiras de uma obra devem ser trabalhados com cuidado e com atenção pelo ator, embora imagine-se que não se tenha dificuldades com textos assim. “Quando comecei no teatro fiquei muito à vontade. Durante uma peça errei uma palavra que parecia sem importância, mas logo fiquei preocupado com aquilo, me distraí e acabei errando todo o resto. Tomo muito cuidado pois sou um pouco disperso”, conta.
Estar no palco para Ricardo é uma experiência que hoje ele encara com muita sabedoria e que considera única. “Tenho muito respeito por estar no palco. Há uma coisa espiritual sobre estar lá”, diz.
Tozzi relembra com carinho seus personagens. Um deles foi o caipira Cândido, da novela Pé na Jaca, que lhe ensinou a rever conceitos de humor e drama. “Meu personagem tinha uma vida horrível. Ele não tinha estudo e nem perspectivas, mas era engraçado justamente devido à esta angustia, à este desespero”, conta.
Para Ricardo, no teatro ou na TV, a história de um personagem cômico tem uma graça que se origina da seriedade. “O humor não existe somente pelo humor, ele parte da verdade da tragédia”, diz.
E o humor é uma parte marcante do trabalho de Ricardo Tozzi, que roubou a cena como o atrapalhado suburbano Douglas, em Insensato Coração. Segundo o ator, os espectadores se identificam com personagens que levam o humor, justamente por esta ser uma necessidade atual. “As pessoas precisam de humor para lidar com suas vidas. A realidade é trágica, nos telejornais 95% das notícias são pesadas. O núcleo cômico das novelas é o que mais faz sucesso”, coloca.
Para o ator, interpretar um personagem engraçado é mais trabalhoso do que um tipo dramático. “O humor é mais difícil do que o drama. Já fiz os dois. O ator de humor tem que ter inteligência de vida, tem que ter a mesma visão do autor do texto”, diz.
Além de trazer diversão para o público, Tozzi acredita que, no teatro, os personagens engraçados podem levar o espectador a uma reflexão interior sobre sua própria vida. “O humor causa uma identificação e, ao identificar-se, você ri. Isso pode até ser inconsciente. O humor pode aliviar bullyings, mostrar um personagem que deu a volta por cima, passar um exemplo de vida. Por outro lado o drama também tem a sua função, de liberar a mágoa”, coloca.
Provocando na plateia diversas reações, um bom texto de teatro também enfrenta um obstáculo: o de não ser compreendido por alguns espectadores. Para Ricardo, é preciso sempre pensar se a obra a ser encenada está de acordo com o público a que se destina. “Muitas peças não são compreendidas. Às vezes o texto é muito sofisticado e não faz parte do cotidiano daqueles espectadores. Muitas pessoas também vão ao teatro pelo artista, porque o conhecem das novelas. É preciso avaliar o impacto que o texto terá naquele público”, diz.
Outra questão com a qual se deve lidar durante um espetáculo é a resposta do público à peça que, pode tanto ser variável, como nem existir. “A plateia é viva e você precisa saber contornar se a plateia não responde, não se manifesta”, diz.
Entrar em cena no teatro, na televisão e no cinema têm seus diferenciais. Segundo Ricardo Tozzi, no teatro há mais tempo para pensar o personagem em seus mínimos detalhes para cada cena. “No teatro até mesmo um gesto é pensado. Você tem meses para ensaiar as várias possibilidades. Na TV não, é tudo na hora. É preciso ter rapidez de raciocínio”, coloca.
Outro contraponto é que na TV – devido à quantidade de cenas gravadas em um único dia – não se tem muito tempo para preparar-se para dar vida as grandes emoções do personagem. “Na TV a concentração é primordial. Você tem que abstrair-se do contexto e se preparar rapidamente para fazer uma cena dramática pesada”, diz.
Interpretar um personagem no teatro e outro na TV ao mesmo tempo requer do ator uma grande dedicação. Ricardo conta que se dedica aos dois tipos de atuação apenas separadamente. “Fica inviável fazer novela junto com o teatro. Algumas emissoras já não permitem mais isso. Mesmo os trabalhos sendo na mesma cidade, há muito trânsito e o ator pode atrasar-se para uma gravação, por exemplo”, conta.
Um eterno apaixonado pela profissão que escolheu seguir para o resto da vida, Ricardo Tozzi relembra que seu trabalho nunca cairá na rotina, sempre com muitas possibilidades de estar em cena e em contato com os espectadores. “Há tantas formas de fazer a mesma coisa! Esta arte é a busca pela melhor forma e ela sempre tem o poder de convencer o público”, encerra.